Penso que todo professor de história ou pelo menos a
maioria, deve um dia ter se deparado com esta questão em sala de aula: mas
afinal, para quê serve a história?
Analisando a historiografia, percebemos que todo
documento, toda e qualquer fonte, tudo que é escolhido como objeto histórico
possui historicidade, uma trajetória, isto é, uma história que é dialética. Os
próprios conceitos o possuem. Neste sentido a história enquanto uma disciplina
e posteriormente enquanto uma ciência também possui historicidade que retrata
diferentes momentos nos quais ela serviu à diferentes objetivos. Portanto,
quando se pergunta “para que serve a História?”, também se demanda sua trajetória
para compreender o presente da ciência histórica.
A História já contribuiu para a consolidação dos
Estados-nação por exemplo. Na França com a República e mesmo no Brasil quando
do período do IHGB (Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro) que foi
responsável por escrever a história do Brasil e “dar uma cara” a este novo
país.
Com as mudanças temporais, vieram novos contextos
sociais, econômicos, políticos, culturais, em suam, históricos; que se
apresentam paulatinamente. Destas mudanças, também a historiografia se vê em
diálogo e percebendo, aos poucos, mudanças, no que se entende por “como fazer a
história” e por aí também temos o como escrever a história?
Mudanças estas como as metodológicas observadas da
Escola metódica francesa representada sobretudo por Langlois e Seignobos para a
École des Annales, preconizada por
Febvre e Bloch.
É a partir da primeira geração dos Annales que
observamos uma tentativa de se ampliar o que era tido como documento histórico
e consequentemente ampliar ao hall de fontes a que os historiadores poderiam se
debruçar. Bloch mesmo opta por manter la
méthode critique (método crítico) da Escola metódica porém afirmando que
tudo pode vir a ser uma fonte.
Este mesmo autor dirá que se fôssemos antiquários
amaríamos coisas velhas, mas como somos historiadores, amamos a vida. Somos nós
que damos vida à história. Neste sentido, a Historia hoje só tem serventia
pelas mãos dos/as historiadores/as. Ela é uma responsabilidade para com o
presente, ela serve à reflexão.
Por fim, nós enquanto historiadores precisamos sempre
refletir não somente em para quê fazemos historia mas também para quem. A quem
serve a história que produzimos? O que ela legitima?
Segundo Caio Boshi (2007) nós, enquanto seres humanos
somos também sujeitos, o que significa portanto que o curso da História também
nos modifica.
Acredito que não podemos ter uma visão romântica da
história, de pensa-la enquanto solução para os problemas do mundo, e nem muito
menos apolítica. Ela nos cobra uma posição, o que inclui pensar em para quem
estamos contribuindo com a História (ciência) que fazemos (escrevemos,
contamos, publicamos, ensinamos)?
Certeau (1982) nos atenta para a responsabilidade que
a escrita da história carrega e seu primeiro questionamento em A escrita da
história é justamente este: “o que fabrica o historiador quando ‘faz história’?
Para quem trabalha? O que produz?” (p. 65).
Ele mostra, desta forma como a escrita parte de um
lugar social e tem relação estreita com o presente e com a memória: o poder da
escrita, para Certeau, dá vida aos mortos à medida que possibilita à nós
narrarmos eventos passados.
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